Sistema Endócrino

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O estresse do dia-a-dia

 

 

No Stress”! Não há quem nunca tenha ouvido, dito ou mesmo lido em algum lugar essa expressão em inglês, que se popularizou no Brasil e até virou jargão. Quem já viajou pelo nordeste, com certeza já viu camisetas, adesivos e todos os tipos de artigos para turistas com essa estampa, que traduzida para o português quer dizer “Sem Estresse”. Mas, para o espanto de muitos, o temido estresse pode ser um fator positivo e necessário na vida de qualquer um.

 

Estresse.
Estresse.

 

Como assim? Segundo especialistas, a vida seria muito monótona sem estresse. Um pouco dele traz uma certa dose de emoção, de desafio, necessários para que as pessoas sintam-se mais estimuladas a vencer os obstáculos do cotidiano. “A ansiedade pode ser um fator de crescimento, não só de destruição. Se você não tem angústias, desafios a serem vencidos, não tem estímulo para produzir. A ansiedade em fazer um bom trabalho, por exemplo, pode ser algo positivo, dentro dessa colocação”, esclarece o presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, doutor Antônio Geraldo da Silva.

É claro que os limites para o “estresse positivo” devem ser controlados. Quando um indivíduo começa a sofrer muita pressão no dia-a-dia, o resultado é exatamente o contrário; ao invés de estímulo, o estresse provoca uma queda de produção no trabalho, mal estar físico e muitos outros fatores nocivos. Por isso, é sempre bom monitorar os níveis de estresse para que não cheguem a ser prejudiciais. “Um grande desafio neste estressante mundo atual é fazer o estresse na vida trabalhar a seu favor e não contra você”, destaca o doutor Antônio Silva.

Cada um tem o seu limite para o estresse. A mesma situação pode causar reações diferentes, dependendo das particularidades de cada pessoa. “Se você for um executivo que gosta de se manter ocupado o tempo todo, ficar ocioso na praia, em um lindo dia, pode fazê-lo sentir-se extremamente frustrado, não-produtivo e chateado”, explica o doutor. Portanto, antes de tudo, é preciso detectar as situações que desencadeiam um alto nível de estresse, evitando-a. Reconhecer os primeiros sinais de tensão e então fazer algo a respeito pode significar uma importante diferença na qualidade de vida. (Jornal Comunidade – Brasília, 3/11/2002)

 

 

O impacto do estresse no organismo

 

 

Um dos primeiros cientistas a demonstrar experimentalmente a ligação do estresse com o enfraquecimento do sistema imunológico foi Louis Pasteur (1822-1895). Em estudo pioneiro no final do século 19, ele observou que galinhas expostas a condições estressantes eram mais suscetíveis a infecções bacterianas do que galinhas não estressadas. Desde então, o estresse é tido como um fator de risco para inúmeras patologias que afligem as sociedades humanas, como patologias cardiovasculares (arteriosclerose, derrame), metabólicas (diabetes tipo 2 – DM2), gastrointestinais (úlceras, colite), distúrbios do crescimento (nanismo psicogênico, aumento do risco de osteoporose), reprodutivas (impotência, amenorreia, aborto espontâneo), infecciosas (herpes labial, gripes e resfriados), reumáticas (lúpus, artrite reumatoide), câncer e depressão.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o estresse afeta mais de 90% da população mundial e é considerado uma epidemia global. Na verdade, sequer é uma doença em si: é uma forma de adaptação e proteção do corpo contra agentes externos ou internos.  

Estressores sensoriais ou físicos envolvem um contato direto com o organismo. Estariam incluídos, nesse caso, subir escadas, correr uma maratona, sofrer mudanças de temperatura (calor ou frio em excesso), fazer voo livre ou bungee jumping etc. Já o estresse psicológico acontece quando o sistema nervoso central é ativado através de mecanismos puramente cognitivos, como brigar com o cônjuge, falar em público, vivenciar luto, mudar de residência, fazer exames na escola ou de vestibular, cuidar de parentes com doenças degenerativas (como mal de Alzheimer, que causa demência) e outros.

Um terceiro tipo de estressor pode ainda ser considerado: as infecções. Vírus, bactérias, fungos ou parasitas que infectam o ser humano induzem a liberação de citocinas (proteínas com ação regulatória) pelos macrófagos, glóbulos brancos especializados na destruição por fagocitose de qualquer invasor do organismo. As citocinas, por sua vez, ativam um importante mecanismo endócrino de controle do sistema imunológico.

A reação do organismo aos agentes estressores pode ser dividida em três estágios. No primeiro estágio (alarme), o corpo reconhece o estressor e ativa o sistema neuroendócrino. 

Resposta fisiológica ao estresse.
Cortisol e estresse.
Fonte: http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto13.htm

Inicialmente há envolvimento do hipotálamo, que ativa o sistema nervoso autônomo, em sua porção simpática. O hipotálamo também secreta alguns neurotransmissores, como dopamina, noradrenalina e hormônio liberador de corticotropina (CRH). Esse último estimula a liberação de corticotropina ou hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) pela adenohipófise

O ACTH, por sua vez, estimula o córtex das glândulas suprarrenais (adrenais) a secretarem corticoides, enquanto a ativação do sistema nervoso simpático estimula a secreção das catecolaminas (adrenalina/noradrenalina) pela medula adrenal. As adrenais passam, então, a produzir e liberar os hormônios do estresse (cortisol e catecolaminas), que aceleram o batimento cardíaco, dilatam as pupilas, aumentam a sudorese e os níveis de açúcar no sangue, reduzem a digestão (e ainda o crescimento e o interesse pelo sexo), contraem o baço (que expulsa mais hemácias para a circulação sanguínea, o que amplia a oxigenação dos tecidos) e causa imunodepressão (redução das defesas do organismo). A função dessa resposta fisiológica é preparar o organismo para a ação, que pode ser de “luta ou fuga”.

 

 

 

Cortisol e sistema imune.

 

Entre outros sistemas também envolvidos na reação de estresse, destacam-se o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide, respondendo ao frio e ao calor, o eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, diminuindo temporariamente a função reprodutiva para desviar energia para outros tecidos, e o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), liberando renina pelas células justaglomerulares do rim, que, atuando sinergicamente junto ao sistema nervoso simpático, promove o aumento da pressão arterial e mantém a perfusão sanguínea adequada de órgãos e tecidos. Ocorre, também, aumento na liberação do hormônio do crescimento (GH).

No segundo estágio, (adaptação), o organismo repara os danos causados pela reação de alarme, reduzindo os níveis hormonais. No entanto, se o agente ou estímulo estressor continua, o terceiro estágio (exaustão) começa e pode provocar o surgimento de uma doença associada à condição estressante, pois nesse estágio começam a falhar os mecanismos de adaptação e ocorre déficit das reservas de energia. As modificações biológicas que aparecem nessa fase assemelham-se àquelas da reação de alarme, mas o organismo já não é capaz de equilibrar-se por si só.

O estresse agudo, repetido inúmeras vezes pode, por essa razão, trazer consequências desagradáveis, incluindo disfunção das defesas imunológicas.

Receptores GABA.

O estresse pode provocar também mudança nos receptores pós-sinápticos normais de GABA (principal neurotransmissor inibidor do SNC), levando a superestimulação de neurônios e resultando em irritabilidade do sistema límbico. A presença de GABA diminui a excitabilidade elétrica dos neurônios ao permitir um fluxo maior de íons cloro. A perda de uma das sub-unidades-chave do receptor GABA prejudica sua capacidade de moderar a atividade neuronal.

De modo geral, pode-se afirmar que o organismo humano está muito bem adaptado para lidar com estresse agudo, se ele não ocorre com muita frequência. Mas quando essa condição se torna repetitiva ou crônica, seus efeitos se multiplicam em cascata, desgastando seriamente o organismo.

 

Para maiores informações, consulte:

- TANNO, A.P.; MARCONDES, F.K. Estresse, ciclo reprodutivo e sensibilidade cardíaca às catecolaminas.  Rev Bras Cienc Farm 2002; 38(3): 273- 289.

 

Veja também:

- Psiquiatra ensina como respirar para diminuir a ansiedade: ‘Imitar um bebê’.

 

 

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