Componentes do Sistema Digestório
Segmento digestório inferior II: intestino grosso
O intestino grosso é a porção terminal do TGI. Mede cerca de aproximadamente 1,5 m de comprimento e 6,5 cm de diâmetro [é mais calibroso (daí o seu nome) e mais curto que o intestino delgado] e estende-se do íleo até o ânus, sendo dividido em quatro regiões principais:
- ceco,
- colo (ascendente, transverso, descendente, sigmoide),
- reto
- canal anal (ânus).
A porção final do intestino delgado, o íleo, comunica-se com a porção inicial do intestino grosso, o ceco intestinal. Contrações haustrais (de mistura) e peristalse levam o conteúdo do colo para o reto. À medida que o quimo atravessa o intestino grosso, bactérias atuam sobre ele e há absorção de água, íons e vitaminas. Assim, formam-se as fezes, que depois são eliminadas.
São suas funções mais importantes a absorção de água, eletrólitos e vitaminas, a eliminação dos resíduos da digestão e a manutenção da continência fecal.
Veja também:
- Os benefícios do exercício físico para o funcionamento do intestino.
Controle hormonal da digestão
A presença de alimento na boca, a simples visão, pensamento ou o cheiro do alimento, estimulam a produção de saliva. Enquanto o alimento ainda está na boca, o sistema nervoso autônomo, por meio do nervo vago, envia estímulos ao estômago, iniciando a liberação de suco gástrico.
À medida que o alimento chega ao estômago, a parede estomacal estende-se, desencadeando a liberação do hormônio gastrina, hormônio produzido pela própria mucosa gástrica e que estimula a produção do suco gástrico. A gastrina circula pela corrente sanguínea de volta ao estômago, onde estimula a produção de suco gástrico.
Aproximadamente 30% da produção do suco gástrico é mediada pelo sistema nervoso, enquanto os 70% restantes dependem do estímulo da gastrina.
O quimo — mistura ácida de alimento parcialmente digerido — passa do estômago para o duodeno. Com a passagem do alimento para o duodeno, a mucosa duodenal secreta outro hormônio, a secretina , que estimula o pâncreas a produzir suco pancreático e liberar bicarbonato.
Ao mesmo tempo, a mucosa duodenal também produz colecistocinina (colecistoquinina ou CCK), que é estimulada principalmente pela presença de gorduras no quimo e provoca a secreção do suco pancreático e contração da vesícula biliar, que lança a bile no duodeno.
A CCK estimula a liberação de enzimas digestórias do pâncreas e de bile da vesícula biliar. A secretina estimula o pâncreas a liberar bicarbonato (HCO3‒), que neutraliza o quimo.
Se o quimo for rico em gorduras, os elevados níveis de secretina e CCK liberadas atuam no estômago para inibir a peristalse e secreção de suco gástrico, retardando, desse modo, a digestão.
Células enteroendócrinas
Mais de 15 tipos de células enteroendócrinas (secretoras de hormônios) já foram identificados na mucosa do estômago, intestino delgado e colo. Muitas dessas secretam somente um hormônio, e são identificadas por letras (células G, células S, etc.). Outras produzem serotonina ou histamina e são chamadas de células enterocromafins ou células ECL, respectivamente.
A tabela abaixo apresenta as principais células enteroendócrinas, hormônios secretados e efeitos principais.
Tipo celular e localização | Hormônio produzido | Efeito principal |
G – estômago (piloro) | Gastrina | Estimula a secreção gástrica ácida |
S – intestino delgado | Secretina | Secreção pancreática rica em bicarbonato (alcalina) e em água |
K – intestino delgado | Polipeptídio insulinotrópico glicose-dependente ou polipeptídeo inibidor gástrico (GIP) | Inibe a secreção de HCl pelo estômago; estimula a secreção de insulina |
I – intestino delgado | Colecistoquinina (CCK) | Secreção de enzimas pancreáticas; contração da vesícula biliar. |
L – intestino delgado | Peptídeo semelhante ao glucagon-1 – GLP1 (Glicentina) | Inibe a secreção de HCl pelo estômago; estimula a secreção de insulina |
D – estômago (piloro), duodeno | Somatostatina | Inibição localizada de outras células enteroendócrinas e da secreção e proliferação celular gástricas |
Mo – estômago, intestino delgado e colo | Motilina | Aumenta a motilidade intestinal (produz contração de músculos lisos no estômago e intestinos no período entre refeições) |
EC – trato digestivo | Substância P | Aumenta a motilidade intestinal |
D1 – trato digestivo | Polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP) | Eliminação de água e íons; aumenta a motilidade intestinal |
X/A like – preferencialmente no estômago | Grelina | Aumenta o apetite e a ingestão alimentar (hormônio orexígeno); estimula a liberação do hormônio de crescimento (GH) |
A gastrina é produzida por células chamadas de células G na porção do antro da mucosa gástrica. Em doses grandes, a gastrina tem uma variedade de ações, mas suas ações fisiológicas principais são a estimulação da secreção de ácido gástrico e pepsina, e a estimulação do crescimento da mucosa do estômago e dos intestinos delgado e grosso (ação trófica). A secreção de gastrina é aumentada pela presença dos produtos da digestão de proteínas no estômago, particularmente aminoácidos, que agem diretamente sobre as células G. Também é afetada pelo conteúdo do estômago, pela taxa de descarga dos nervos vagos, e por fatores carreados pelo sangue, tais com:
- cálcio e adrenalina: aumentam a secreção de gastrina
- secretina, GIP, VIP, glucagon, calcitonina: inibem a secreção de gastrina
A secretina é secretada por células S, que se localizam nas glândulas da mucosa da porção superior do intestino delgado. A secretina estimula a liberação de bicarbonato e água pelas células acinosas do pâncreas que, lançados no duodeno, alteram o pH de ácido para alcalino, o que facilita a ação das enzimas intestinais. Com menos intensidade, a secretina também estimula a secreção de bile e a secreção intestinal.
O GIP é produzido por células K na mucosa do duodeno e do jejuno. Sua secreção é estimulada por glicose e gordura no duodeno, e como em doses grandes ele inibe a secreção e a motilidade gástrica, foi denominado polipeptídeo inibidor gástrico. O GIP é uma é uma incretina (hormônio produzido pelo TGI e liberado quando há entrada no intestino de nutrientes que estimulam a secreção de insulina) secretada pelas células K após absorção de carboidratos e lipídios. As células K estão localizadas principalmente no duodeno e na parte proximal do jejuno (mais densamente no duodeno). Sua principal ação é estimular a secreção de insulina glicose dependente (por isto é também conhecido como peptídio insulinotrópico glicose-dependente). A ação deste hormônio é interessante, pois permite ao organismo se preparar para o surgimento de glicose decorrente da digestão do alimento, uma vez que a insulina tem importante papel na manutenção dos níveis glicêmicos no plasma sanguíneo.
A colecistoquinina (CCK) é secretada por células endócrinas conhecidas como células I na mucosa da porção superior do intestino delgado. Ela tem uma abundância de ações no sistema gastrintestinal, mas as mais importantes são a estimulação da secreção de enzimas pancreáticas, a contração da vesícula biliar (a ação pela qual ela foi denominada) e o relaxamento do esfíncter de Oddi, que permitem que tanto a bile quanto o suco pancreático fluam para o lúmen intestinal. Resumindo, a CCK estimula a liberação de enzimas digestórias pelo pâncreas e de bile pela vesícula biliar.
O peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) é o hormônio incretina predominante. É secretado pelas células L, encontradas principalmente no íleo e no cólon, sendo produzido em resposta aos níveis elevados de glicose no lúmen intestinal. Além de estimular a secreção de insulina, o GLP-1 suprime a liberação de glucagon, desacelera o esvaziamento gástrico, melhora a sensibilidade à insulina e reduz o consumo de alimentos. Os efeitos do GLP-1 sobre as células das ilhotas pancreáticas incluem aumento da secreção de insulina pelas células (beta) de modo dependente de glicose, aumento da secreção de somatostatina pelas células delta (D) e redução da secreção de glucagon pelas célula (alfa).
OBS.:
A secretina, o polipeptídeo inibitório gástrico, a colecistocinina e o GLP-1 atuam em diferentes graus sobre a mobilidade gástrica, diminuindo o esvaziamento do estômago no duodeno. Ao conjunto de hormônios produzidos pelo duodeno e que atuam como inibidores da motilidade gástrica dá-se o nome de enterogastronas.
A somatostatina, hormônio inibidor do hormônio do crescimento originalmente isolado do hipotálamo, é secretada como um parácrino por células D nas ilhotas pancreáticas e por células D semelhantes na mucosa gastrintestinal. A somatostatina inibe a secreção de gastrina, VIP, GIP, secretina e motilina.
A motilina é um polipeptídeo secretado por células enterocromafins e células Mo no estômago, intestino delgado e colo. Ele age sobre receptores acoplados à proteína G em neurônios entéricos no duodeno e colo, e produz contração de músculos lisos no estômago e intestinos no período entre refeições.
A substância P é encontrada em células endócrinas e nervosas no trato gastrintestinal, e pode entrar na circulação. Ela aumenta a motilidade do intestino delgado.
O polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP) é encontrado em nervos do trato gastrintestinal. No intestino, ele estimula acentuadamente a secreção intestinal de eletrólitos, e consequentemente a de água. Suas outras ações incluem relaxamento de músculos lisos intestinais, inclusive esfíncteres; dilatação de vasos sanguíneos periféricos; e inibição da secreção de ácido gástrico.
A grelina é secretada principalmente pelo estômago e parece desempenhar um importante papel na sinalização dos centros hipotalâmicos que regulam a ingestão alimentar e o balanço energético, além de estar envolvida com o estímulo para iniciar uma refeição (aumenta o apetite e a ingestão alimentar). A grelina também estimula a secreção de hormônio do crescimento (GH), agindo diretamente sobre receptores na hipófise.