Efeitos psicológicos e fisiológicos do som
No que diz respeito ao homem, o som tem a capacidade de afetá-lo sobre uma série aspectos psicológicos e fisiológicos.
Sons dentro da faixa de 0 a 90 decibéis (dB - unidade de medida da intensidade sonora) apresentam principalmente efeitos psicológicos no homem. Eis alguns exemplos:
- O som de uma música pode nos acalmar, nos alegrar ou até mesmo nos excitar.
- Um som desagradável como o raspar de uma unha sobre um quadro-negro pode "arrepiar".
- O som intermitente de uma gota d'água pingando de uma torneira pode nos impedir de dormir, e são apenas 30 ou 40 decibéis.
Não esqueçamos, contudo, que um som pode fazer desabar uma avalanche de neve nas encostas de uma montanha sob o efeito de ressonância.
Para o campo da acústica aplicada à engenharia e à arquitetura, nos interessa saber como o som pode tornar um ambiente mais adequado para o homem exercer suas ações de trabalho, lazer ou repouso. Surge então o conceito de "conforto acústico" ambiente. Para cada tipo ambiente um nível adequado para o seu ruído de fundo. Valores acima ou abaixo podem tornar o ambiente acusticamente inadequado para a finalidade a que se destina.
Entre 90 e 120 dB, além dos efeitos psicológicos podem ocorrer efeitos fisiológicos, alterando temporária ou definitivamente a fisiologia normal do organismo. Nessa intensidade de som os ambientes são considerados insalubres.
Sons repentinos (mesmo de intensidade reduzida), como o estouro de uma bombinha de São João, produzem uma reação de sobressalto e a complexa resposta do organismo a uma ocasião de emergência: a pressão arterial e a pulsação disparam; os músculos se contraem.
Acima de 120 decibéis o som já pode começar a causar algum efeito físico sobre as pessoas. Podem ocorrer numerosas sensações orgânicas desagradáveis: vibrações dentro da cabeça, dor aguda no ouvido médio, perda de equilíbrio, náuseas. A própria visão pode ser afetada pelo som muito intenso, devido à vibração, por ressonância, do globo ocular. Próximo aos 140 dB pode ocorrer a ruptura do tímpano.
Sons ainda mais elevados, como a explosão da partida de um foguete de veículos espaciais – que pode chegar até 175 dB – podem danificar o mecanismo do ouvido interno e causar convulsões.
A perda de audição pode ser ocasionada principalmente por dois fatores:
- o envelhecimento natural da orelha com a idade (denominado presbiacusia),
- a exposição prolongada em níveis superiores a 90 dB.
Presbiacusia
A presbiacusia é bastante comum e se inicia entre 40 e 50 anos de idade. Ocorre mesmo em pessoas que não se expõem ao ruído prejudicial e aumenta com a idade, sendo esse aumento mais pronunciado para as frequências mais altas. A idade provoca um aumento gradual nos limiares auditivos, sendo que a frequência de 4000Hz parece ser a mais afetada, principalmente no sexo masculino. Um fato curioso é que a presbiacusia para as mulheres é menos pronunciada do que para os homens. Por exemplo, um homem de 60 anos terá uma perda de audição devido à idade de cerca de 25 decibéis em 3.000 Hz; uma mulher nessa idade terá perdido apenas cerca de 14 decibéis nessa frequência.
Para maiores informações sobre presbiacusia, consulte:
- GONÇALVES, C.G.O.; MOTA, P.H.M.; MARQUES, J.M. Ruído e idade: análise da influência na audição em indivíduos com 50-70 anos. Pró-Fono R. Atual Cient 2009; 21(1): 57-61.
Exposição ao ruído
A exposição prolongada a ruídos acima de 90 dBA é um fator inerente de nosso progresso tecnológico e muitas pessoas se veem praticamente obrigadas a exercer suas atividades profissionais em condições acústicas insalubres. Pode-se estimar numericamente quantos decibéis uma pessoa perderá em sua audição em função do ruído a que fica exposta. Das diversas pesquisas realizadas hoje podem ser feitas as seguintes afirmações:
- quanto maior o ruído, maior será o grau de perda de audição.
- quanto maior o tempo de exposição ao ruído, também maior será o grau de perda de audição.
Geralmente o som em uma determinada frequência ocasiona perda de audição em uma frequência superior. Ruídos em 500 Hz ocasionam perdas entre 1.000 e 2.000 Hz. Ruídos em 2.000 Hz ocasionam perdas em 4.000 Hz.
A estimativa da perda em decibéis pode ser feita através de curvas determinadas através de experiências com um grande número de pessoas.
Tomemos como exemplo um ruído de 500 Hz e 85 dB. A pessoa, ficando exposta a ele durante as 8 horas diárias (40 horas semanais) terá, após 10 anos nessas condições, perdido 10 decibéis na sua audição. Isso significa que ela ouvirá os sons na faixa de 2.000 Hz atenuados em 10 dB em relação às pessoas com audição normal.
Se o ruído tiver 92 dB, ela perderá 15 dB. Assim, para estimarmos a perda total que uma pessoa terá, deveremos adicionar também a perda devido à idade. Por exemplo, se a pessoa que ficou exposta a ruídos de 92 dB durante 10 anos tiver uma idade de 50 anos e for homem terá uma perda total de 15 + 11 = 26 dB (na frequência de 2.000 Hz), sendo 15 dB devido ao ruído e 11 dB devido à sua idade.
A ISO (International Organization for Standardization) em sua recomendação 1999-1975 indica como limites normais de níveis de ruído em regime de 40 horas semanais e 50 semanas por ano, como sendo de 85 a 90 dB. Acima desses limites corre-se o risco de perda de audição para conversação.
Testes audiométricos – graus de perda de audição
A primeira precaução visando a implantação de um programa de preservação auditiva é a realização do audiograma ou teste audiométrico que demonstra o estado da sensibilidade auditiva do indivíduo.
Classificação dos graus de perda de audição para conversação face a face:
Classe | Nome | Perda para conversação db | Observações |
A | Normal | Não mais do que 15 dB na pior orelha | Sem dificuldade para ouvir voz baixa |
B | Quase normal | Mais que 15, mas menos do que 30 em ambos orelhas | Dificuldade apenas para ouvir voz baixa |
C | Perda /dia | Mais que 15, mas menos do que 30 em ambas as orelhas. | Dificuldade para voz normal, mas não para voz alta |
D | Perda séria | Mais do que 45, mas não mais do que 60 na melhor orelha | Dificuldade mesmo para voz alta |
E | Perda grave | Mais do que 60, mas não mais do que 90 na melhor orelha | Só pode ouvir voz amplificada |
F | Perda profunda | Mais do que 90 na melhor orelha | Não pode entender nem mesmo a voz amplificada |
G | Perda total em ambas as orelhas - Não pode ouvir qualquer som |
Percepção da força gravitacional e do movimento
O aparelho vestibular detecta a posição da cabeça no espaço; isto é, determina se ela está ereta com relação à força gravitacional da Terra, se está jogada para trás, se está voltada para baixo, ou em outra posição. Detecta também as mudanças bruscas de movimento. Para a execução dessas funções, o aparelho vestibular apresenta duas regiões fisiologicamente distintas: a mácula do utrículo e do sáculo e os canais semicirculares.
Máculas
As máculas ficam posicionadas em diferentes graus de inclinação em relação ao corpo, de tal forma que, quando uma está em posição horizontal, uma outra fica em posição vertical.
Quando se inclina a cabeça para um lado, o peso dos otólitos desloca os cílios para esse lado, estimulando as fibras nervosas. Dessa forma, a mácula supre as regiões de equilíbrio do sistema nervoso central com as informações necessárias à manutenção do equilíbrio. As máculas também auxiliam na manutenção do equilíbrio quando se começa a andar subitamente para a frente, para o lado, ou em qualquer outra direção linear. Isto é, quando se inicia um movimento para a frente, a inércia faz com que os otólitos sejam deslocados para trás, inclinando os cílios nessa direção. Esse fenômeno dá uma sensação de desequilíbrio para trás. Como resposta, o indivíduo inclina-se para a frente, a fim de não cair. Por outro lado, quando se quer frear um movimento, deve-se inclinar o corpo para trás. Outra vez, são os otólitos das máculas que iniciam automaticamente esse movimento; dessa forma, quando se para, os otólitos se conservam em movimento para frente enquanto todo o corpo está parando. Isso desloca os cílios das células maculares para a frente, fazendo com que a pessoa tenha a sensação de estar caindo com a cabeça em direção ao chão. Como resposta, o mecanismo de equilíbrio inclina o corpo para trás, automaticamente.
Mudanças na posição da cabeça fazem com que a força da gravidade, atraindo os otólitos, estimule os cílios das células sensoriais maculares. Os impulsos nervosos produzidos nas máculas permitem ao sistema nervoso central calcular a orientação da força gravitacional. Assim, percebemos se estamos de cabeça para cima ou para baixo e a velocidade de nosso deslocamento.
Canais semicirculares
Voltando-se subitamente a cabeça em qualquer direção, o líquido presente nos canais semicirculares desloca-se para trás em um ou mais canais, em consequência de sua inércia (o mesmo efeito é obtido quando subitamente se gira um copo com água). Com o movimento do fluido dos canais semicirculares ocorre um fluxo contra a crista ampular, cujos cílios se deslocam de um lado para o outro, dando à pessoa a sensação de que sua cabeça está começando a rodar.
A informação transmitida dos canais semicirculares avisa o sistema nervoso sobre as súbitas mudanças na direção do movimento. De posse dessa informação, a formação bulborreticular (da porção inferior do tronco cerebral) pode corrigir qualquer desequilíbrio, antes mesmo que ocorra. Isso é particularmente importante quando se muda rapidamente a direção de um movimento (por exemplo, numa competição de corrida).
Cerebelo
Além de transmitir estímulos nervosos à formação bulborreticular da porção inferior do tronco cerebral, os canais semicirculares e as máculas enviam informações ao cerebelo, que prevê quando vai ocorrer um estado de desequilíbrio. Isso permite que estímulos corretivos apropriados sejam enviados à formação bulborreticular antes do desequilíbrio acontecer, de forma a evitá-lo ao invés de corrigi-lo depois de ocorrido.
Como os demais sistemas sensoriais, o sistema vestibular faz conexões com o tálamo e neocórtex, que faz a integração cortical das informações sobre os movimentos corporais, dos olhos e do cenário visual. Por isto, se rodopiarmos a uma velocidade constante, o líquido no interior dos canais semicirculares vai passando a se mover em consonância com os canais. Se pararmos bruscamente de rodopiar, o líquido dos canais semicirculares continuará a se mover devido à inércia, estimulando as células sensoriais. A sensação de tontura que sentimos resulta do conflito de duas percepções: os olhos informam ao sistema nervoso que paramos de rodopiar, mas o movimento do líquido dos canais semicirculares da orelha interna informa que nossa cabeça ainda está em movimento.
OBS.:
O labirinto informa sobre a direção dos movimentos da cabeça e do corpo (para cima, para baixo, de um lado para o outro, para frente, para trás e rotações), enquanto os olhos informam sobre a posição do corpo no espaço, a pele informa sobre qual parte do corpo que está em contato com uma superfície e os músculos e articulações (sistema proprioceptivo) informam sobre os movimentos e quais as partes do corpo que estão envolvidas com eles.
Resumindo, o sentido de equilíbrio depende de grupos de células sensoriais ciliadas localizadas na parede interna do sáculo e do utrículo e na base dos canais semicirculares. As fibras nervosas que partem dessas células sensoriais levam informações sobre a posição relativa dos cílios até os centros de equilíbrio no encéfalo. Quando a cabeça se movimenta, a inércia do líquido no interior dos canais semicirculares exerce pressão sobre os cílios das células sensoriais. A pressão faz com que os cílios se curvem, estimulando as células sensoriais a gerar impulsos nervosos e transmiti-los ao encéfalo.