Sistema Cardiovascular

Gostou do nosso conteúdo?
Compartilhe com seus amigos!

Ao assinar o AFH+ você tem acesso a exercícios exclusivos e materiais extras. Experimente ser um usuário premium e libere todo o conteúdo do site sem anúncios . Clique aqui para conhecer.
D-Fit Banner

Sangue

 

Sangue (componentes).

O sangue humano é constituído por um líquido amarelado, o plasma, e por três diferentes tipos de linhagens celulares, genericamente denominados de elementos figurados:

  • eritrócitos (glóbulos vermelhos ou hemácias);
  • leucócitos (glóbulos brancos)
  • plaquetas (trombócitos)

 

O exame hematológico e a avaliação do esfregaço do sangue periférico permitem a análise quantitativa e qualitativa destas linhagens celulares.

 

Hematopoese (hematopoiese ou hemocitopoese)

 

Admite-se que todas as células do sangue derivam de um único tipo celular da medula óssea, por isto chamada célula-tronco pluripotente. Estas células proliferam e formam duas linhagens com potencialidade menor (multipotentes): a das células linfoides, que vai formar os linfócitos, e a das células mieloides, que origina os eritrócitos, granulócitos, monócitos e plaquetas. Durante a diferenciação, os linfócitos são transportados pelo sangue para os linfonodos, timo, baço e outros órgãos linfáticos, onde proliferam.

 

Células da medula óssea e hematopoese.

 

A proliferação das células-tronco multipotentes, por sua vez, origina células-filhas com potencialidade menor. Essas células-filhas são as células progenitoras uni- ou bipotentes que produzem células precursoras (blastos). É nas células precursoras que as características morfológicas diferenciais das linhagens aparecem pela primeira vez, pois as células-tronco e as células progenitoras são indistinguíveis morfologicamente e se parecem com os linfócitos grandes. 

 

Hematopoese.

 

Plasma

 

Plasma.

O plasma é uma solução aquosa contendo elementos de pequeno e elevado peso molecular, que corresponde a 10% de seu volume. As proteínas plasmáticas correspondem a 7% e os sais inorgânicos, a 0,9%, sendo o restante formado por compostos orgânicos diversos, tais como aminoácidos, vitaminas, hormônios, glicose etc. Os componentes de baixo peso molecular do plasma estão em equilíbrio, através das paredes dos capilares e das vênulas, com o líquido intersticial dos tecidos. Por isto, a composição do plasma é um indicador da composição do líquido extracelular (LEC).

As principais proteínas do plasma são:

  • albuminas, alfa, beta e gamaglobulinas,
  • lipoproteínas,
  • proteínas que participam da coagulação do sangue, com a protrombina e o fibrinogênio.

 

As albuminas, que são sintetizadas no fígado e muito abundantes no plasma sanguíneo desempenham papel fundamental na manutenção da pressão osmótica do sangue. Deficiência em albuminas causa edema generalizado. As gamaglobulinas são anticorpos e, por isso, também chamadas imunoglobulinas.

 

Plasma (composição).

OBS.: Soro é o plasma sem o fibrinogênio.

 

Elementos Figurados

 

Eritrócitos (glóbulos vermelhos ou hemácias)

 

Hemácias.

Os eritrócitos são células sanguíneas anucleadas, com forma circular e bicôncava, que contêm grande quantidade de hemoglobina em seu interior. 

Suas funções primordiais são a de transportar oxigênio dos pulmões aos tecidos, mantendo adequada a oferta de oxigênio às células, e transportar CO2 dos tecidos aos pulmões. A hemoglobina é a responsável por estas funções. 

Cerca de 70% do CO2 é transportado no plasma sob a forma de íons bicarbonato; 23% se liga à hemoglobina (Hb), formando a carboemoglobina e o restante é transportado dissolvido no plasma.

 

Oxiemoglobina e carboemoglobina.

 

Hemoglobina

 

A molécula da hemoglobina (proteína conjugada com ferro) é formada por quatro subunidades, cada uma contendo um grupo heme ligado a um polipeptídio. O grupo heme é um derivado porfirínico que contém Fe2+.

 

Hemoglobina: estrutura.
A molécula de hemoglobina é um tetrâmero com peso molecular de 64.458 Dáltons (64 kD), formado por quatro subunidades, iguais duas a duas. Cada subunidade é composta por duas partes: a globina, cadeia polipeptídica que varia muito geneticamente, e a heme, grupo prostético que consiste em um átomo de ferro situado no centro de um anel de porfirina, sendo semelhante em todas as formas geneticamente diferentes de hemoglobina.

 

Devido a variações nas cadeias polipeptídicas, distinguem-se vários tipos de hemoglobina, dos quais três são considerados normais - as hemoglobinas A1, A2 e F. A hemoglobina A1 (HbA1) representa cerca de 97% e a hemoglobina A2 (HbA2), cerca de 2% da hemoglobina do adulto normal. O terceiro tipo de hemoglobina normal é característico do feto, sendo conhecido como hemoglobina fetal ou F (HbF). Representa 100% da hemoglobina do feto e cerca de 80% da hemoglobina do recém-nascido, e sua taxa baixa progressivamente até o oitavo mês de idade, quando alcança 1%, porcentagem semelhante à encontrada no adulto. 

A hemoglobina fetal (HbF) é muito ávida pelo oxigênio, tendo importante papel na vida fetal, pois o feto não tem acesso ao ar e obtém oxigênio do sangue materno, através da placenta.

 

A molécula de hemoglobina é formada por quatro subunidades, cada uma contendo um grupo heme ligado a um polipeptídio (globina). Essa molécula tem estrutura aproximadamente esférica, com as cadeias de globina dobradas, de modo a que os quatro grupos heme se localizem em fendas superficiais equidistantes umas das outras. Esse tetrâmero é mantido junto por ligações entre as quatro cadeias de globina. As duas cadeias alfa (α) são iguais, possuindo cada uma 141 aminoácidos; as duas cadeias beta (β) são também iguais entre si, compreendendo cada uma 146 aminoácidos.

No adulto, a hemoglobina encontrada nas hemácias é predominantemente a hemoglobina A (HbA), constituída de duas cadeias α e duas cadeias β. Assim, a hemoglobina normal do adulto (HbA) tem a seguinte fórmula: α2β2. Devido a variações nas cadeias polipeptídicas também são detectadas em quantidades mínimas a hemoglobina fetal (HbF) e a hemoglobina A2 (HbA2).

 

Eritropoese (eritropoiese)

 

Os eritrócitos são produzidos no interior dos ossos, a partir de células da medula óssea vermelha, pela proliferação e maturação dos eritroblastos, fenômeno chamado eritropoese (ou eritropoiese). A eritropoese (ou eritropoiese) leva à produção de eritrócitos de modo a manter constante a massa eritrocitária do organismo, sugerindo que o processo é finamente regulado, sendo a eritropoetina ou eritropoietina (EPO) o principal e mais bem conhecido fator de crescimento envolvido. 

Os eritroblastos da medula óssea são gerados a partir da proliferação e diferenciação de progenitores eritroides imaturos que não podem ser morfologicamente identificados, mas in vitro dão origem a colônias de eritroblastos, como mostrado a seguir:

 

Eritropoese.

OBS.: Eritroblasto ortocromático é também denominado normocromático.

 

A diferenciação celular a partir da célula-tronco passa por uma etapa de progenitores hematopoéticos comprometidos, isto é, com potencial de desenvolvimento restrito. Durante os estágios iniciais, as células dividem-se muitas vezes e mudam de cor, devido à progressiva formação de maiores e maiores quantidades de hemoglobina. No estágio de normoblasto (eritroblasto normocromático), o núcleo é ejetado e se degenera, e a célula se transforma num reticulócito. É nesse estágio que geralmente a célula deixa a medula óssea.

Ao penetrarem na corrente sanguínea, vindos da medula óssea vermelha onde são formados, os glóbulos vermelhos contêm ainda certa quantidade de ribossomos. Esses corpúsculos são chamados reticulócitos e sua concentração no sangue normal é de cerca de 1% do número total de hemácias. Desta forma, o reticulócito, que sai da medula óssea e é liberado para a corrente sanguínea, ainda contém grande quantidade de RNA em seu citoplasma, preservando a capacidade de síntese proteica. Geralmente, é uma célula maior que a hemácia madura e o seu volume é cerca de 20% maior que o da hemácia. 

No sangue periférico, o reticulócito pode ainda ser sequestrado pelo baço e lá permanecer por um ou dois dias, até ser definitivamente devolvido à circulação. Uma vez que o reticulócito amadurece completamente, perde o seu conteúdo de RNA, transforma-se em uma hemácia madura incapaz de sintetizar hemoglobina, cuja vida em circulação é de aproximadamente 120 dias. 

 

Destruição de eritrócitos (hemocaterese)

 

Como mencionado acima, os eritrócitos têm uma vida média de 120 dias e, quando envelhecidos, são destruídos principalmente no baço. Esse fenômeno da remoção das hemácias em via de degeneração é denominado hemocaterese e ocorre também, embora com intensidade muito menor, na medula óssea. Há indicações de que a redução da flexibilidade das hemácias e modificações de sua membrana sejam os sinais para a destruição das hemácias envelhecidas. 

Os macrófagos do baço fagocitam hemácias inteiras e pedaços das hemácias que frequentemente se fragmentam no espaço extracelular. As hemácias fagocitadas são digeridas pelos lisossomos dos macrófagos, e a hemoglobina é desdobrada em diversos fragmentos, dando origem a um pigmento desprovido de ferro, a bilirrubina, a qual é devolvida ao sangue, captada pelas células hepáticas e excretada por estas como um dos constituintes da bile. 

Outro produto do desdobramento da hemoglobina é a proteína globina, que é digerida no macrófago ao estado de aminoácidos, que são reaproveitados. O ferro formado pelo desdobramento da hemoglobina pode ser imediatamente armazenado nos macrófagos, sob a forma de ferritina, ou passar para o sangue, onde se combinará com a transferrina, proteína plasmática transportadora de ferro. O complexo ferro-transferrina será captado por endocitose pelas células que contêm, em suas membranas, receptores para transferrina, como os eritroblastos, e reutilizado para a síntese de hemoglobina.

 

Para maiores informações sobre eritropoese, EPO e hemocaterese, consulte também:

- ZAGO M.A.; CALADO, R.T. 2001. Eritropoese e eritropoetina: produção e destruição de hemácias.  Hematologia; Fundamentos e práticas: Atheneu, 1043.

 

Eritropenia (eritrocitopenia) 

 

 A redução de glóbulos vermelhos no sangue (eritropenia) com consequentemente baixa concentração de hemoglobina, determina um estado denominado de anemia, caracterizado por cansaço e deficiência respiratória. Anemia é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a condição na qual o conteúdo de hemoglobina no sangue está abaixo do normal, levando à diminuição da capacidade de transporte de oxigênio.

Excluídas as raras situações de hemodiluição (como ocorre na chamada “anemia esportiva” ou “anemia do esportista”, que costuma ser uma falsa anemia, causada pela diluição das hemácias, resultante de um aumento no volume plasmático), a queda da concentração de hemoglobina reflete uma verdadeira redução da massa de eritrócitos. 

A anemia pode ter diversas causas:

 

Anemias carenciais

Surgem por deficiência de determinados nutrientes na dieta, como ferro, vitamina B12 e o ácido fólico. A anemia provocada pela falta de ferro é chamada ferropriva; pela falta de vitamina B12, é a anemia perniciosa.

Anemias espoliativas

São o resultado da perda de sangue causada por algumas doenças, como amebíase, amarelão, úlcera e gastrite.

Anemias hereditárias

São de base genética. As talassemias, por exemplo, consistem em um conjunto de síndromes motivadas principalmente por alterações quantitativas da síntese de globinas α e β, causando desequilíbrio entre elas e graus variáveis de anemias hemolíticas, além de outras consequências patológicas. Outro exemplo é o da anemia falciforme, que resulta da substituição de um único aminoácido na cadeia β da hemoglobina (ácido glutâmico por valina). Submetidas a baixas concentrações de oxigênio, as hemácias adquirem o aspecto de uma foice e são destruídas.

Hemácia normal e hemácia falciforme.

Anemias aplásticas

São originadas de doenças que comprometem a medula óssea vermelha, acarretando diminuição na produção de glóbulos vermelhos e demais células do sangue. Ex: leucemia.

 

 

Animação: Anemia falciforme

 

 

A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame físico minuciosos, além de exames laboratoriais. Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos.

 A massa de glóbulos vermelhos determina a capacidade potencial de transporte de oxigênio do sangue e é estimada por três parâmetros: contagem de eritrócitos, hematócrito e concentração de hemoglobina. Parâmetros adicionais, como os índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM e RDW), permitem avaliar indiretamente as características dos eritrócitos quanto ao volume e conteúdo de hemoglobina. 

 

Parâmetros comumente empregados em laboratórios comerciais

 

Contagem de eritrócitos: é uma estimativa do número de eritrócitos por volume de sangue (milhões/mm3 ou x 106/mL). 

 

Hematócrito (HTC) ou volume globular (VG): corresponde à porcentagem (%) de eritrócitos presentes no sangue, ou seja, é uma medida da porcentagem do sangue que é ocupada pelos eritrócitos. 

 

Teor (concentração) de hemoglobina (Hb)é a medição do conteúdo de hemoglobina por unidade de volume de sangue, expresso em g/dL.

 

Volume Corpuscular Médio (VCM): determina o tamanho médio dos eritrócitos, ou seja, o volume de um eritrócito médio, sendo que o resultado pode trazer tamanho normal (chamados normocíticos), diminuído (microcíticos) ou aumentado (macrocíticos). É calculado dividindo-se o hematócrito pelo número de eritrócitos e multiplicando-se por 10.

VCM (cálculo).

 

Hemoglobina Corpuscular Média (HCM): indica o conteúdo de hemoglobina de cada eritrócito, ou seja, indica o peso da hemoglobina em um eritrócito médio. É calculada a partir da concentração de hemoglobina e da contagem dos eritrócitos.

HCM (cálculo).

 

Concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM): avalia a quantidade de hemoglobina encontrada em 1 dL (ou 100 mL) de eritrócitos, ou seja, expressa o peso da hemoglobina em relação a 1 dL de eritrócitos. É calculada a partir da concentração de hemoglobina (Hb) e do valor do hematócrito (ou volume globular – VG).

CHCM (cálculo).

 

RDW (Red Cell Distribution Width) ou amplitude de distribuição das hemácias: é uma medida de anisocitose, ou seja, indica o grau de variação do tamanho dos eritrócitos. 

 

Os valores de referência (VR) variam conforme o laboratório. Como eles utilizam equipamentos e controles para contagem automática, cada laboratório tem o seu valor de referência próprio, e em geral, são todos muito semelhantes. O que é considerado normal é na verdade os valores que ocorrem em 95% da população sadia.

 

Eritrograma

Valores de referência

Homens

Mulheres

Crianças

Acima de 70 anos

Hemácias (milhões/mm3)

4,50 a 6,10

4,00 a 5,40

4,07 a 5,37

3,90 a 5,36

Hemoglobina (g/dL)

13,0 a 16,5

12,0 a 15,8

10,5 a 14,0

11,5 a 15,1

Hematócrito (%)

36,0 a 54,0

33,0 a 47,8

30,0 a 44,5

33,0 a 46,0

VCM (fL)

80,0 a 98,0

80,0 a 98,0

70,0 a 86,0

80,0 a 98,0

HCM (pg)

26,8 a 32,9

26,2 a 32,6

23,2 a 31,7

27,0 a 31,0

CHCM (g/dL)

30,0 a 36,5

30,0 a 36,5

30,0 a 36,5

30,0 a 36,5

RDW (%)

11,0 a 16,0

11,0 a 16,0

11,0 a 16,0

11,0 a 16,0

g/dL = gramas por decilitro; fL = fentolitros; pg = picogramas

 

A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: 

  • hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia
  • índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos macrocíticos (VCM > 100) ou microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose
  • contagem de reticulócitos para estimar se a resposta medular sugere incapacidade da produção ou hemólise ou perda sanguínea recente
  • esfregaço sanguíneo e exame microscópico das lâminas de sangue periférico para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas

 

 

Eritrocitose 

 

Eritrocitose é definida como um aumento proporcional de eritrócitos no sangue periférico, ou seja, elevação do número de eritrócitos circulantes (massa eritrocítica), representada hematologicamente pelo aumento do valor do hematócrito acima dos valores de referência. Pode ser congênita ou adquirida, primária ou secundária. 

No tipo primário (p. ex., policitemia vera), o defeito ocorre no compartimento eritropoético, enquanto na forma secundária, há um aumento da eritropoese em resposta ao aumento da secreção de eritropoietina (EPO), como acontece, por exemplo, em situações de hipoxemia (baixa concentração de oxigênio no sangue arterial) ou doença renal. 

Eritrocitose secundária adquirida pode ocorrer como uma adaptação fisiológica do organismo a locais de altitude elevada, onde o ar é rarefeito. Nesses locais, a saturação de oxigênio é menor que ao nível do mar e a saturação de hemoglobina permanece normal, determinando diminuição da oferta de oxigênio nos tecidos. Como adaptação fisiológica, ocorre secreção de eritropoietina pelos rins, estimulando a medula óssea a produzir mais hemoglobina e mais glóbulos vermelhos. O aumento da quantidade dessas células eleva a capacidade de captação de oxigênio pelo ar.

 


OBS.: 

A policitemia, igualmente chamada de eritrocitose, também consiste no aumento do número de eritrócitos circulantes por volume de sangue, que é refletido pela elevação do hematócrito ou dos níveis de hemoglobina. No entanto, atualmente, o termo eritrocitose como designação para anormalidades hematológicas referentes à elevação do hematócrito tem preferência ao termo policitemia. Isto porque na policitemia, existem 3 categorias principais: (1) policitemia relativa, onde a massa eritrocitária permanece normal, contudo o volume de plasma está diminuído; (2) policitemia secundária, causada por níveis altos de eritropoietina (EPO); e (3) policitemia primária ou policitemia vera, que constitui um distúrbio neoplásico de células-tronco, caracterizado por uma produção excessiva e autônoma de eritrócitos e, muitas vezes, também de leucócitos e plaquetas.


 

Leucócitos (glóbulos brancos) 

 

Os leucócitos (glóbulos brancos) são células especializadas na defesa do organismo, combatendo vírus, bactérias e outros agentes invasores que penetram no corpo. 

 

Leucócitos totais

Valores de referência

Adultos

Crianças (menores de 8 anos)

3.600 a 11.000

4.000 a 14.000

 

Denomina-se leucopenia quando o número de leucócitos totais se encontra abaixo dos valores de referência e leucocitose, quando sobe acima desses valores. Enquanto a leucopenia predispõe o organismo a infecções, a leucocitose geralmente ocorre como resposta do organismo no combate a uma infecção. 

Embora desempenhem papel de defesa do organismo (sistema imune, imunológico  ou imunitário), os leucócitos formam o grupo mais heterogêneo de células do sangue, tanto do ponto de vista morfológico quanto fisiológico, e cada subtipo leucocitário detém funções bastante específicas e distintas entre si. 

 

Leucócitos.

 

Os leucócitos são agrupados em duas categorias diferentes: os polimorfonucleares ou granulócitos e os mononucleares ou agranulócitos. 

 

Leucócitos polimorfonucleares ou granulócitos

 

Os leucócitos polimorfonucleares, também chamados de granulócitos pela presença de granulação citoplasmática, incluem os neutrófilos, eosinófilos e basófilos, e possuem um núcleo multiforme e segmentado. Além dos grânulos específicos, apresentam também grânulos azurófilos (que se coram em púrpura), de origem lisossômica. 

 

LEUCÓCITOS POLIMORFONUCLEARES OU GRANULÓCITOS

Tipos celulares

Neutrófilo.

Neutrófilo

Eosinófilo.

Eosinófilo

Basófilo.

Basófilo

Característica geral

Núcleo geralmente trilobulado.

Núcleo bilobulado.

Grânulos citoplasmáticos muito grandes, chegando a mascarar o núcleo.

Função

Fagocitar elementos estranhos ao organismo.

Fagocitar apenas determinados elementos. Em doenças alérgicas ou provocadas por parasitas intestinais há aumento do número dessas células.

Liberar heparina (anticoagulante) e histamina (substância vasodilatadora liberada em processos alérgicos).

Nº aproximado em cada mm3 (adultos)

Bastonetes (neutrófilos jovens): 0 a 550

Segmentados (neutrófilos maduros): 1.480 a 7.700

0 a 550

0 a 220

 

Os neutrófilos são os leucócitos mais abundantes no sangue, sendo os primeiros a responderem à maioria das infecções, particularmente às infecções bacterianas e fúngicas. Eles fagocitam os microrganismos na circulação e entram rapidamente nos tecidos extravasculares nos locais de infecção, onde também fagocitam os patógenos, morrendo depois de algumas horas. 

Denomina-se neutropenia quando ocorre redução da contagem de neutrófilos do sangue (abaixo dos valores de referência; geralmente abaixo de 2.000/mm3 de sangue, considerando os neutrófilos totais). Se for grave, há aumento no risco e na gravidade de infecções, principalmente aquelas causadas por bactérias e fungos. Já a neutrofilia é a condição na qual uma pessoa possui no sangue um número aumentado de neutrófilos (acima dos valores de referência), estando habitualmente ligada a quadros de infecção, principalmente bacterianas e fúngicas. A neutrofilia é frequentemente acompanhada de febre, dor e mal-estar. Visto que os neutrófilos são os leucócitos mais abundantes do sangue, em infecção aguda, a neutrofilia é a causa primordial da leucocitose.

 

Os eosinófilos são muito menos numerosos do que os neutrófilos, constituindo apenas 1 a 3% do total de leucócitos. Esses granulócitos são atraídos para as áreas de inflamação alérgica pela histamina, produzida principalmente por basófilos e mastócitos (células do tecido conjuntivo). Fagocitam o complexo antígeno-anticorpo que aparecem em casos de alergia, como a asma brônquica, por exemplo. Em doenças alérgicas ou provocadas por parasitas intestinais há aumento do número dessas células (eosinofilia).

 


OBS.: 

Os eosinófilos não são células especializadas para a fagocitose de microrganismos. Sua atividade defensiva é realizada pela liberação seletiva do conteúdo de seus grânulos para o meio extracelular e pela fagocitose e destruição de complexos antígeno-anticorpo.


 

Os basófilos têm núcleo volumoso, com forma retorcida e irregular, geralmente com o aspecto da letra S. Seu citoplasma é carregado de grânulos maiores do que os dos outros granulócitos (contêm histamina, fatores quimiotáticos para eosinófilos e neutrófilos, e heparina). Não são células fagocitárias, estando envolvidas em reações de hipersensibilidade imediata (reações alérgicas), caracterizadas pelo aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação, contração da musculatura lisa (principalmente dos bronquíolos) e inflamação local, proporcionadas pela liberação de seus grânulos citoplasmáticos para o meio extracelular. Embora os basófilos sejam os leucócitos menos abundantes na circulação, seu número se expande rapidamente na medula óssea em resposta a sinais inflamatórios, sendo mobilizados para o sangue, baço, pulmão e fígado. O aumento persistente do número de basófilos no sangue, no entanto, é raro e denomina-se basofilia, que pode ocorrer devido a uma doença hematológica, como, por exemplo, a leucemia mieloide crônica. Pode também estar associada ao hipotireoidismo ou a doença renal.

 


OBS.: 

As reações de hipersensibilidade imediata são assim denominadas porque ocorrem em poucos minutos após a penetração do antígeno em indivíduos previamente sensibilizados pelo mesmo antígeno. 


 

Leucócitos mononucleares ou agranulócitos

 

Os leucócitos mononucleares ou agranulócitos incluem os linfócitos e os monócitos, cuja característica peculiar é a de possuir um núcleo único e uniforme. O citoplasma não possui granulações específicas, podendo apresentar grânulos azurófilos inespecíficos que também estão presentes em outros tipos celulares. 

 

LEUCÓCITOS MONONUCLEARES OU AGRANULÓCITOS

Tipos celulares

Monócito.

Monócito

Linfócito.

Linfócito

Característica geral

Núcleo em forma de rim ou ferradura.

Núcleo muito condensado, ocupando quase toda a célula.

Função

Fagocitar bactérias, vírus e fungos. 

Participam da imunidade adquirida

Linfócitos B: relacionados à defesa contra microrganismos extracelulares e suas toxinas. Imunidade mediada por anticorpos (imunoglobulinas), que neutralizam e eliminam microrganismos e toxinas presentes fora da célula do hospedeiro (imunidade humoral). 

Linfócitos T: relacionados à defesa contra microrganismos intracelulares. Imunidade mediada por células (imunidade celular). 

Nº aproximado em cada mm3 (adultos)

37 a 1.500

740 a 5.500

 

Os dois tipos de fagócitos circulantes, os neutrófilos e os monócitos, são células sanguíneas recrutadas para locais de infecção, onde reconhecem, fagocitam e digerem os microrganismos para que sejam destruídos. Esses fagócitos podem atravessar por diapedese (movimento das células da defesa para fora dos vasos sanguíneos) os vasos sanguíneos e rapidamente atingir os tecidos extravasculares nos locais de infecção.

Monócitos: diferenciação.

 

Os monócitos são menos abundantes do que os neutrófilos e também fagocitam microrganismos no sangue e nos tecidos. Porém, ao contrário dos neutrófilos, os monócitos que entram nos tecidos extravasculares sobrevivem por longos períodos, dando origem a diferentes tipos celulares, que têm em comum a grande capacidade de fagocitose: nos tecidos conjuntivos de propriedades gerais dão origem aos macrófagos; no fígado, às células de Kupffer; no tecido nervoso, às células micróglias.

A monocitose, ou seja, o aumento dos monócitos no sangue (acima dos valores de referência) não é uma situação comum quando isolada, sendo usualmente um sinal, principalmente de infecções e doenças inflamatórias, agudas ou crônicas. Como a inflamação e ativação das células do sistema imunológico têm participação importante na patogênese da aterosclerose, a monocitose tem sido sugerida como um marcador de risco independente para doença coronariana.

 

Os linfócitos constituem uma família de células esféricas, com diâmetro variável que, embora tenham morfologia semelhante, dependendo das moléculas localizadas em sua superfície, podem ser separados em dois tipos principais, linfócitos B e T, com diversos subtipos. Ao contrário dos outros leucócitos que não retornam ao sangue depois de migrarem para os tecidos, os linfócitos voltam dos tecidos para o sangue, recirculando continuamente. 

Enquanto os leucócitos granulócitos e os monócitos participam da imunidade inata (natural, nativa ou inespecífica), que consiste de mecanismos que existem antes da infecção e que são capazes de gerar respostas rápidas aos microrganismos, reagindo essencialmente do mesmo modo a qualquer tipo de infecção, os linfócitos B e T participam da imunidade adquirida (ou específica), que se desenvolve mais lentamente e é responsável pela defesa mais tardia e mais eficaz contra as infecções. 

Existem dois tipos de imunidade adquirida, conhecidos como imunidade humoral e imunidade celular, que são mediados por células e moléculas diferentes, sendo projetados para fornecer a defesa contra microrganismos extracelulares e intracelulares, respectivamente. 

A imunidade humoral é mediada por proteínas chamadas anticorpos (ou imunoglobulinas), produzidas pelos linfócitos B. Os anticorpos são secretados na circulação e nos líquidos das mucosas, neutralizando e eliminando os microrganismos e as toxinas microbianas presentes fora da célula do hospedeiro, no sangue e no lúmen dos órgãos mucosos, como os tratos gastrointestinal e respiratório. Uma das funções mais importantes dos anticorpos é impedir que patógenos presentes nas mucosas e no sangue tenham acesso e colonizem as células e os tecidos conjuntivos do hospedeiro. Assim, os anticorpos evitam que as infecções se estabeleçam. Os anticorpos não têm acesso aos microrganismos que vivem e se multiplicam dentro de células infectadas. A defesa contra esses microrganismos intracelulares é chamada de imunidade celular porque é mediada pelas células conhecidas como linfócitos T. Alguns linfócitos T ativam os fagócitos para destruir os microrganismos ingeridos pelas células fagocitárias nas vesículas fagocíticas. Outros linfócitos T destroem qualquer tipo de célula do hospedeiro que apresente microrganismos infecciosos em seu citoplasma. Assim, os anticorpos produzidos pelos linfócitos B reconhecem os antígenos microbianos extracelulares, enquanto os linfócitos T reconhecem os antígenos produzidos pelos microrganismos intracelulares. Outra diferença importante entre os linfócitos B e T é que a maioria das células T reconhece apenas antígenos proteicos, enquanto os anticorpos são capazes de reconhecer muitos tipos diferentes de moléculas, incluindo proteínas, carboidratos e lipídios.       

O número reduzido de linfócitos denomina-se linfopenia ou linfocitopenia e geralmente está associado a terapia farmacológica prolongada ou imunodeficiência [como ocorre na Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS, do inglês Acquired Immune Deficiency Syndrome),  doença infecciosa mais comum que causa linfocitopenia, aumentando a destruição das células T CD4+ infectadas por HIV]. Já o aumento do número de linfócitos no sangue denomina-se linfocitose e frequentemente está associado a infecções virais; nesses casos, há um aumento de linfócitos com diâmetro maior e cromatina menos condensada. 

 


OBS.:

Apesar de o aumento número de linfócitos no sangue (linfocitose) ser frequentemente associado a infecções virais, a linfopenia ou linfocitopenia (e não a linfocitose) é um achado na Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS, do inglês Acquired Immune Deficiency Syndrome). A AIDS é a doença infecciosa mais comum que causa linfocitopenia, pois aumenta a destruição das células T CD4+ infectadas por HIV. 


 

 

Maiores detalhes sobre imunidades inata e adquirida são fornecidos no tópico específico sobre sistemas Linfático e Imune.

 

Plaquetas (trombócitos)

 

Plaquetas.

As plaquetas (trombócitos) são minúsculos corpúsculos anucleados com a forma de discos redondos ou ovais de 2-4 mm de diâmetro que participam do processo de coagulação sanguínea. Representam fragmentos de megacariócitos, células brancas gigantes e poliploides da medula óssea. Os megacariócitos desintegram-se, formando plaquetas, enquanto ainda estão na medula óssea, liberando depois as plaquetas no sangue. Nos esfregaços de sangue, tendem a aparecer em grumos.

 

Plaquetas

Valores de referência

Adultos

Crianças 

130 a 450 x 10³/mm3 

140 a 500 x 10³/mm3

 

O baixo número de plaquetas circulantes, denominado trombocitopenia, predispõe o paciente a um grande número de minúsculos pontos hemorrágicos na pele e nos tecidos profundos, uma vez que o método de tamponamento plaquetário para interromper pequenas hemorragias vasculares se torna deficiente. A trombocitopenia pode ser determinada geneticamente, porém a maioria dos casos resulta ocorre como uma consequência comum do tratamento farmacológico prolongado e também de doenças infecciosas como a dengue hemorrágica, por exemplo, podendo ser fatal devido à propensão do paciente para lesões vasculares e hemorragias.

O número elevado de plaquetas no sangue, denominado trombocitose, geralmente sinaliza inflamação ou trauma, mas tem pouco significado clínico. Também pode ser determinada geneticamente, o que pode levar à formação de trombos (coágulos), predispondo o indivíduo à trombose, que é a solidificação do sangue dentro do coração ou dos vasos. Já a trombocitemia essencial (um tipo de neoplasia do sangue), é uma doença rara caracterizada pela produção descontrolada de plaquetas, sendo um distúrbio hematológico grave e potencialmente fatal.

 

Estrutura interna

 

As plaquetas têm um sistema de canais, o sistema canalicular aberto, que se comunica com invaginações da membrana plasmática. Assim, o interior da plaqueta se comunica livremente com sua superfície, disposição que tem importância funcional por facilitar a liberação de moléculas ativas que são armazenadas nas plaquetas. Na periferia das plaquetas, observa-se o feixe marginal de microtúbulos. 

As plaquetas possuem algumas mitocôndrias, grânulos de glicogênio e quatro tipos distintos de grânulos delimitados por membrana: 

  • grânulos alfa
  • corpos densos ou grânulos delta
  • lisossomos ou grânulos lambda
  • microperoxissomos

 

Os corpos densos ou grânulos delta têm 250-300 nm de diâmetro e armazenam ADP e ATP. Também são ricos em cálcio, magnésio e serotonina. Os grânulos alfa são um pouco maiores (300-500 nm) e são os grânulos predominantes nas plaquetas. São ricos em β-trombomodulina, fibrinogênio e fator de crescimento plaquetário, que estimula as mitoses no músculo liso dos vasos sanguíneos e a cicatrização das feridas. Os grânulos menores (175-250 nm), chamados grânulos lambda, são lisossomos. Por fim, os microperoxissomos são pequenas estruturas ricas em catalase, enzima que decompõe o peróxido de hidrogênio (H2O2). O fator de von Willebrand, importante para a coagulação sanguínea, encontra-se nas estruturas tubulares periféricas aos grânulos. 

A membrana plasmática das plaquetas é rica em fosfolipídeos e glicoproteínas, sendo estas últimas tanto receptores para diversos fatores, como o de von Willebrand e o fibrinogênio, assim como responsáveis pelas funções de adesão, agregação e ativação plaquetária.

 

Plaquetas (micrografia eletrônica).
Figura: Micrografia eletrônica de plaquetas humanas. Pode-se observar o feixe marginal de microtúbulos na periferia, o sistema canalicular aberto, uma variedade de grânulos delimitados por membrana, algumas mitocôndrias e grânulos de glicogênio. Fonte: JUNQUEIRA, L.C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: Texto e Atlas. 12ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2013.

 

Veja também:

- Doação de sangue: quem pode e não pode doar?

 

 

Continue seu aprendizado

Aprofunde-se mais com nossos livros indicados: